Diesel mais caro que gasolina reflete crise no transporte

Por: Comunicação Cidade do Sol em 27 de junho de 2022

Tanques de armazenamento de combustíveis, cuja disparada de preço se mostra catastrófica (foto: Agência Brasil)

O preço do litro do diesel passou pela primeira vez o da gasolina no Brasil, segundo levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), divulgado sexta-feira (24). É a primeira vez que isso acontece em 18 anos. A disparada reflete a alta dos preços internacionais dos combustíveis, o que fez a Petrobras reajustar o diesel em 14,2% e a gasolina em 5,2%, no último dia 18. Tal cenário prejudica diretamente o transporte coletivo por ônibus de Mossoró, que amarga alta dos custos, mas baixa quantidade de passageiros.

No último dia 20, balanço divulgado pela Prefeitura e a concessionária do serviço em Mossoró (empresa Cidade do Sol) mostrou que a tarifa na cidade deveria ser R$ 8,56 para suprir os custos. O valor representa mais que o dobro do valor atual, R$ 3,30 – sem reajuste há quatro anos.

A situação decorre, principalmente, do baixo número de passageiros pagantes, linhas deficitárias e crescente preço de insumos.  Contudo, a empresa reconhece ser impraticável a tarifa de R$ 8,56, e defende ações emergenciais de forma conjunta para amenizar a crise no sistema.

Disparada

O preço do diesel é dos principais vilões, e o cenário internacional favorece a crise. O diesel tem sido mais disputado no mercado global e a previsão é de que, a partir do segundo semestre, os preços sejam ainda maiores, por causa da substituição do gás russo da Europa pelo combustível, após as sanções impostas à Rússia pela invasão na Ucrânia.

Também, a partir de julho, começam as férias de verão no hemisfério norte, que aumentam a demanda da gasolina, além dos furacões nos Estados Unidos, fenômeno que interrompe por muitas vezes a produção do Golfo do México.

Diante de tudo isso, o preço médio do diesel nos postos de abastecimento em todo o território nacional atingiu, na semana de 19 a 25 de junho, o preço de R$ 7,568/litro, enquanto o preço médio da gasolina ficou em R$ 7,390/litro.  Em Mossoró, os preços do diesel (R$ 7,59) e gasolina (R$ 7,79) estão quase pareados.

 

Associação alerta para risco de interrupções no serviço no país

 

Segundo a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), a variação acumulada no preço do diesel desde o início do ano já alcança 67,9%, o que representa um impacto na tarifa da ordem de 22,9%. Isso significa elevar o valor da tarifa média nacional, que era de R$ 4,28 antes do impacto da variação acumulada do diesel em 2022, para R$ 5,26.

O diretor da concessionária de Mossoró/Cidade do Sol, Waldemar Araújo, lembra que, há quatro anos, o sistema adquiria um litro de diesel a R$ 3,10. “Hoje, compramos a R$ 6,32. Isso é um absurdo”, protesta.

Diante disso, a NTU reitera o alerta sobre os riscos de faltar ônibus para circular, caso os sucessivos aumentos de custos não sejam compensados de alguma forma. Os operadores não têm fôlego financeiro para enfrentar novos aumentos do diesel e serão obrigados a reduzir a oferta dos serviços, sob pena de falência generalizada.

“Restam, portanto, duas opções para os governos locais evitarem a ruptura nos serviços de transporte: ou repassam os aumentos para as tarifas que remuneram os operadores, conforme os contratos vigentes em cada local – o que prejudicará diretamente a parcela mais carente da população – ou subsidiam esse reajuste. As empresas de transporte coletivo urbano não são responsáveis por esses aumentos e não têm como arcar com esses custos”, alerta a associação.